Prêmio no Oscar e o cinema iraniano

Asghar Farhadi

(Foto de filme Beautiful City, de Asghar Farhadi)

Antes da estatueta para “A Separação”, vários filmes já chamavam a atenção da crítica.

Por Julia Casotti (jcasotti@redegazeta.com.br)

Pela primeira vez, um filme iraniano ganhou uma estatueta dourada de Melhor Filme Estrangeiro na 84ª edição do Oscar. “A Separação”, do diretor Asghar Farhadi, ainda foi premiado no Globo de Ouro como Melhor Filme e ganhou o Urso de Ouro e de Prata do Festival de Berlim, em 2011.

O longa, que retrata os conflitos que envolvem a separação de um casal – com críticas sutis aos valores da sociedade iraniana – conquistou a atenção dos festivais internacionais e da crítica.

Mas, antes de “A Separação”, há uma lista de produções persas que já chamavam a atenção da crítica e fazia com que o cinema do país se destacasse mundo a fora. “Procurando Elly”, do próprio Farhadi, já havia ganhado o Urso de Prata no Festival de Berlim, na categoria Melhor Direção, em 2009.

Há também o longa “No One Knows About Persian Cats”, dirigido por Bahman Ghobadi, sobre a cena do rock alternativo no Irã, premiado no Festival de Cannes, em 2009. “Cópia Fiel”, apesar de contar com produtores estrangeiros, é dirigido por um iraniano, Abbas Kiarostami. O filme também foi bem recebido em Cannes, onde a atriz francesa Juliette Binoche ganhou o prêmio de Melhor Atriz.

Características

Um cinema intimista com histórias simples, mas muito bem produzidas, que apresentam – de forma universal – um outro olhar de uma cultura singular para a sociedade ocidental. Essas são algumas das características da produção iraniana apontadas pelo coordenador do Grupo de Estudos Audiovisuais (Grav) da Universidade Federal do Estado (Ufes), Alexandre Curtiss Alvarenga.

“Persian Cats” fala da cena rock do país

“Há uma harmonia entre as histórias e a forma de contá-las, além de ser um cinema que conta novidades para a cultura ocidental, despertando a atenção do público”, disse Curtiss.

Ele também acredita que os cineastas iranianos conseguem retratar as dificuldades de produção sem passar uma ideia opressiva. “Eles conseguem transformar os problemas de seus personagens em questões existenciais. A política está lá, os personagens são fortes, mas a história é contada de forma singela”.

Um dos problemas enfrentados pelos diretores iranianos é a censura imposta pelo governo para ceder patrocínio às produções. A doutora em Cinema e Políticas Culturais pela Universidade de São Paulo (USP), Alessandra Meleiro, afirma que a orientação política da equipe do filme importa mais para a aprovação do governo do que um roteiro de boa qualidade.

Alessandra morou no país por três meses e meio, em 2004, com o objetivo de estudar sua produção cinematográfica. A viagem rendeu o lançamento do livro “O Novo Cinema Iraniano: Arte e Intervenção Social”, em 2006.

“Mais de 80% das salas de cinema no país são ocupadas por filmes comerciais – que recebem financiamento do governo e estão sujeitos aos códigos de censura. Por essa rigidez, diretores que produzem filmes de arte procuram financiamento no exterior”, pontua Alessandra.

Destaques do cinema iraniano

Isto não é um filme (2009)

Jafar Panahi

O documentário  registra um dia na vida do diretor Panahi, em prisão domiciliar, condenado pelo governo iraniano há seis anos de prisão e a 20 sem pode escrever roteiros ou dirigir filmes.

Persépolis(2007)

Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud

Com produção francesa, a trama começa pouco antes da Revolução Iraniana, quando Marjane atinge a adolescência, e acaba quando ela é uma expatriada de 22 anos.

Fora do Jogo (2006)

Jafar Panahi

A proibição à entrada de mulheres em estádios de futebol gera uma discussão sobre a desigualdade de gêneros, e, portanto, cria um questionamento sobre a justiça na sociedade iraniana.

Requiem of Snow (2005)

Sholeh Shariati

Filme sobre a história de uma jovem curda que tenta fugir de seu casamento arranjado.

Tartarugas podem voar (2004)

Bahman Ghobadi

Baseada em fatos reais, a história se passa na fronteira entre Irã e Turquia, pouco antes da invasão americana no Iraque.

A Caminho de Kandahar (2001)

Mohsen Makhmalbaf

História de uma jovem afegã que fugiu de seu país em meio à guerra civil dos talibãs. Ela trabalha como jornalista no Canadá até que sua irmã, que ficou no Afeganistão, lhe envia uma carta que muda toda a situação.

O Círculo (2000)

Jafar Panahi

Narra a trajetória de seis mulheres que vivem sob a opressão masculina no Irã.

A Maçã (1998)

Samira Makhmalbaf

O filme é um clássico do cinema iraniano. Retrata a história de duas irmãs gêmeas que viviam isoladas dentro de casa  e eram proibidas de sair.

Fonte: Matéria publicada no Jornal Gazeta (Espírito Santo), em 01/03/2012, link: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2012/03/noticias/a_gazeta/caderno_2_ag/1130679-premio-no-oscar-abre-olhos-do-mundo-para-o-cinema-iraniano.html