Produção de blockbusters no Brasil

Produção de blockbusters no Brasil

 

Por Fabio Sá Earp e Rodrigo Guimarães e Souza*

A década de 2000 será conhecida, para o cinema brasileiro, como a década da consolidação do blockbuster nacional, uma vez que os principais resultados de público se concentram significativamente em lançamentos com grande número de cópias e forte investimento em despesas de comercialização (P&A), considerando também como parte integrante destas despesas a parceria com a Globo Filmes, empresa ligada à Rede Globo de Televisão.

Considera-se, neste capítulo, como blockbuster nacional o filme com lançamento igual ou superior a 70 cópias e/ou salas. Entendendo que o número de cópias resume as expectativas de resultado e que estas expectativas são consequência dos conceitos artísticos inerentes aos filmes em questão.

Gráfico 4 – Lançamento superior a 70 cópias

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Observamos no Gráfico 4 que o número de filmes nacionais lançados com 70 cópias ou mais, representa um baixo percentual sobre a totalidade de filmes por ano, com exceção de 2003 quando aproximadamente 45% dos filmes lançados contaram com grande número de cópias. É importante lembrar que o ano de 2003 detém até hoje o recorde anual de público do cinema nacional para o período da retomada.

Porém a conclusão mais importante observada no Gráfico 4 é a quantidade de público alcançada pelos filmes lançados com 70 ou mais cópias, uma vez que tais filmes respondem pela grande maioria do público do cinema nacional ao longo dos últimos anos. A redução da participação do perfil de lançamento de blockbusters brasileiros nos anos de 2007 e 2008 – ainda que pouco significativa, pois os grandes lançamentos continuam atraindo mais
de 75% do público – pode ser explicada pelo aumento de lançamentos de filmes de pequeno porte com baixo número de cópias.

Analisando mais detalhadamente a trajetória dos nossos blockbusters, é possível observar que a maioria destes filmes foram distribuídos pelas majors, distribuidoras internacionais, e ainda estabeleceram parceria comercial com a Globo Filmes. As razões para tal fenômeno podem ser encontradas em três aspectos, um regulatório e dois de mercado.

O aspecto regulatório é gerado pelo Artigo 3º da Lei do Audiovisual, mecanismo de financiamento à produção via incentivo fiscal incidente sobre remessas ao exterior, gerando maior capacidade de investimento à distribuidoras internacionais que nacionais. É importante para um distribuidor possuir capacidade de investimento em produção, pois lhe garante mais contratos de distribuição. Isso é facilitado pelo fato dos distribuidores estrangeiros serem os donos dos filmes que alcançam o maior resultado de público e faturamento no país, os blockbusters internacionais, gerando grande volume de remessas e,
portanto, de investimentos no Brasil via incentivo fiscal.

Outro aspecto de mercado é relativo ao porte das empresas distribuidoras no mercado nacional. Enquanto as distribuidoras nacionais são empresas de pequeno e médio porte, as majors são filiais de grandes empresas ligadas a conglomerados globais e possuem maior volume de recursos disponíveis para o lançamento de filmes. O investimento no lançamento de um filme é determinante para confirmação das expectativas de seu resultado
comercial, uma baixa capacidade de investimento limita este resultado.

Apesar do Artigo 3º da Lei do Audiovisual gerar distorções competitivas no setor de distribuição, hoje este é o principal mecanismo de financiamento à produção nacional uma vez que é utilizado por empresas do próprio setor, portanto com maior capacidade de avaliação de projetos, e possui recorrência de investimento.

Importante também no processo de lançamento a Globo Filmes, que atua através de modelos de negócio de coprodução e apoio por meio de cross mídia, merchandising, chamadas comerciais e supervisão artística. Essa empresa esteve presente nos principais lançamentos desde sua fundação em 1998. Percebe-se claramente grande relevância na associação comercial entre um filme de longa-metragem e um canal de televisão.

Observa-se, então, que parcerias, ou demais fontes de financiamento, que direcionam investimentos à produção e comercialização são extremamente importantes para possibilitar que o filme nacional alcance o maior número de espectadores.

*Trecho do artigo de Fabio Sá Earp e Rodrigo Guimarães e Souza no livro “Cinema e Economia Política”, volume II da coleção “Indústria Cinematográfica e Audiovisual Brasileira”, uma coedição do Instituto Iniciativa Cultural e Escrituras Editora.

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