Quem não quer filmar aqui?

Quem não quer filmar aqui?

 

Por Belisa Figueiró

O Brasil está na moda. E antes mesmo que as delegações da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016 desembarquem no país, os executivos do cinema já estão de olho nos produtores internacionais, oferecendo grandes incentivos para que várias filmagens incluam cenas nas belas praias ou nas cidades históricas brasileiras. A largada foi dada no Rio de Janeiro, onde os escritórios estadual e municipal, especializados em oferecer apoio às produções cinematográficas – conhecidos como film commissions –, uniram forças. Mas os cenários do Brasil não param por aí. Em todo o país, a oferta de locações é bem disputada e cada Estado oferece o que tem de melhor.

O Rio de Janeiro tem o apelo da mata que contorna o mar e desenha um dos mais deslumbrantes cenários naturais do mundo. E é com esse atrativo que Steve Solot pretende vender a imagem da cidade nos próximos anos. Ele é o novo chefe da Rio Film Commission, depois de ficar 20 anos à frente da vice-presidência da Motion Pictures Association (MPA) para a América Latina. Em breve, a Rio Film Commission vai se tornar uma Organização Social (OS), com contrato de gestão outorgado pelo governo do Estado e pela prefeitura. Mas, por enquanto, Solot está subordinado às duas esferas e a sede oficial será transferida para as Casas Casadas, prédio onde está concentrada toda a máquina audiovisual carioca e fluminense.

Os gordos aportes financeiros também vão ajudar a impulsionar o cinema no Rio de Janeiro. Segundo o diretor-presidente da RioFilme, Sérgio Sá Leitão, serão destinados R$ 90 milhões para o cinema e o audiovisual carioca até 2012, que inclui também a construção de um polo audiovisual na região portuária da cidade. De acordo com Solot, o primeiro edital é de R$ 5 milhões e saiu no final do ano. Outra novidade é o fundo Rio Global para atrair diretores internacionais, com aportes de R$ 3 milhões anuais.

O primeiro filme a se beneficiar dessa verba, proveniente dos orçamentos do Estado e da prefeitura, será “Rio, Eu Te Amo”, produção que deverá trazer diversos cineastas conhecidos internacionalmente para filmarem na cidade, seguindo a linha de “Paris, Te Amo” (2006). Outra produção que está engatilhada é um filme de Woody Allen, mas depende ainda de encaixar na agenda dos produtores dele nos próximos dois anos. “O foco da nossa energia é para tentar fechar o mais rápido possível, mas isso pode ficar para 2011, 2012, não sabemos. Eles estão estudando, é muito cedo ainda”, explica Solot.

Com o anúncio do interesse de Woody Allen e o dinheiro oferecido, já existem outros interessados. “Tem uma fila, uma lista de produções estrangeiras chegando, alguns de televisão. Diariamente recebo pedidos de informação e, primeiro, o produtor quer saber o que temos para depois agendar uma visita. Estamos preparando todo o material e organizando essas equipes”, descreve Solot sem anunciar os nomes desses interessados.

A Rio Film Commission também será lançada em diversos encontros internacionais nos Estados Unidos, inclusive com a presença do prefeito Eduardo Paes em Los Angeles, no primeiro trimestre ainda de 2010, para estreitar os laços e atrair produtores que queiram não só filmar longas-metragens, mas também videoclipes, comerciais e séries de TV.

Para Ana Cristina Costa e Silva, presidente da Aliança Brasileira de Film Commissions (Abrafic), a junção dos escritórios para a criação da Rio Film Commission é um exemplo para o Brasil. “Houve uma coordenação muito interessante, uma capitalização para o setor, uma inteligência comercial com essa fusão. Vender a cidade dentro de um contexto de Estado, muitas vezes, é mais fácil, porque você consegue filmar não só na cidade, mas também no litoral e lidando com uma só film commission. Quanto mais você simplifica, melhor. O nosso mercado demanda agilidade e hoje é um nicho altamente competitivo e sofisticado mundo afora”, diz ela.

Primeiro contato

Quando um produtor está interessando em filmar no Brasil, geralmente o primeiro contato dele é a Abrafic. Dependendo da solicitação, o pedido é encaminhado para as film commissions estaduais, municipais ou outros órgãos ligados ao setor, como o Programa Cinema do Brasil ou a Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão (ABPITV). A função da Abrafic, criada em novembro de 2006, é fazer essa interlocução com as diversas instituições e vender a imagem do Brasil no exterior, como ocorreu na feira Location Trade Show, em Santa Monica, nos Estados Unidos, em 2008. Com a vinda dessas produções internacionais, a dinâmica não ocorre apenas no audiovisual, mas também na geração de empregos e no crescimento do turismo.

Para facilitar essa interface, a Abrafic mantém um site na internet com dicas para os produtores internacionais e disponibiliza um manual de exportação com números da população e dimensão do Brasil, informações sobre questões aduaneiras, vistos temporários de trabalho, leis de incentivos fiscais e fotos de cenários paradisíacos.

Uma das film commissions mais antigas do país é a do Amazonas, ligada à Secretaria de Estado da Cultura. Desde a década de 1970, a região abrigava produções estrangeiras de documentários por causa da exótica Floresta Amazônica. Mas foi em 2001, com a criação oficial do escritório, que até mesmo produtores nacionais passaram a filmar mais no Estado. “A Festa da Menina Morta”, do ator-cineasta Matheus Nachtergaele, premiado no Brasil e no exterior, foi totalmente filmado em Barcelos, no interior da Amazônia.

São Paulo

Em São Paulo, o litoral e o interior são mais atrativos para os produtores do que a própria capital e seu trânsito caótico que atrapalha qualquer set de filmagem. Em Santos, os prédios e as ruelas históricas servem de cenário para longas e curtas-metragens, telenovelas, comerciais e programas de televisão. Com dois anos de atuação, a Santos Film Commission atrai, a cada mês, ao menos uma grande filmagem de longa ou curta-metragem, a exemplo de “Lula, o Filho do Brasil”. Em oito dias, a equipe rodou as principais cenas da infância do Presidente da República na cidade. “Plastic City”, coprodução brasileira com China, Hong Kong e Japão, também teve cenas gravadas em Santos.

“Desde outubro de 2007, montamos um serviço de atendimento e captação de produções audiovisuais que tem resultado na movimentação da economia local. Trabalhamos para oferecer a infra-estrutura necessária às produções, mas também como uma engrenagem importante para alavancar a economia da cidade, movimentando hotéis, comércio, locadoras de veículos, empresas de segurança”, descreve Cristina Guedes, diretora da Santos Film Commission.

A 118 km da capital, a cidade de Paulínia também é uma referência para o audiovisual no Brasil. Além do polo Magia do Cinema – criado em 2005 com os aportes de R$ 100 milhões da prefeitura – a cidade oferece um edital de R$ 9 milhões anuais para a produção de filmes. Na infra-estrutura do polo, o produtor encontra uma film commissions com cadastro de figurantes locais, três estúdios cinematográficos, um museu, um teatro com estrutura internacional, escritórios e salas para oficinas, e alunos de cinema da escola dispostos a trabalhar no set de filmagem.

“Salve Geral”, de Sergio Rezende; e “Hotel Atlântico”, de Suzana Amaral; foram alguns dos quase 20 filmes que já tiveram apoio e filmaram nos cenários áridos, rústicos e naturais da região.


FONTE
Revista Movie
Edição nº 06
Data: março de 2010
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