Políticas para França e Brasil

Políticas para França e Brasil

 

Por Belisa Figueiró

BELO HORIZONTE – No último debate dos seminários sobre coproduções cinematográficas dentro da Mostra CineBH 2009, as políticas públicas de desenvolvimento, preservação, fomento e exportação foram os temas levantados pelos debatedores, partindo da referência francesa que inspira as ações culturais voltadas para o setor não só no Brasil, mas no mundo inteiro.

Com números animadores, Joël Augros – professor da Université Paris 8 – e Brigitte Veyne – da Embaixada da França no Brasil –, começaram suas falas lembrando que as leis de apoio ao cinema francês foram criadas em 1948, cujos mecanismos foram sendo aprimorados ao longo do tempo, mas que a filosofia central nunca foi alterada. Uma das preocupações do governo francês é de preservar as salas de cinema, que são frequentadas por cerca de 70% da população local ao menos uma vez por ano.

O resultado desse mercado exibidor pulsante chega a 1 bilhão de euros anuais só na arrecadação nas bilheterias, que são taxadas juntamente com as emissoras de televisão e distribuidoras de filmes estrangeiros e franceses. Uma porcentagem do dinheiro dessas receitas é enviada para um fundo, como uma espécie de poupança, que fomenta os diversos braços do setor. O Centre National de la Cinématographie (CNC), de acordo com os dados apresentados por Brigitte, administra o total desses recursos, que são de 540 milhões de euros anuais.

Dos 200 filmes produzidos a cada ano, 95% deles são coproduzidos com outros países, 51% tendo a França como país majoritário. Nas estatísticas do CNC, ao longo dos últimos 13 anos, o Brasil aparece como coprodutor da França em apenas seis filmes. A maioria das parcerias francesas ocorre com a Bélgica, Itália e Alemanha.

Do lado brasileiro da mesa, o diretor da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Manoel Rangel, salientou logo de início que qualquer comparação com a França mostra os déficits do mercado nacional. Mas que, a partir da criação da Ancine, o mercado começou a se expandir e a ficar menos centrado na produção.

Salas de cinema

Os números brasileiros são realmente bastante alarmantes. Ao contrário das 5.500 salas de cinema francesas, por aqui, esse levantamento aponta apenas para 2.278 salas, uma média de uma sala para cada 83 mil habitantes. Nos Estados Unidos, de acordo com os dados de Rangel em sua apresentação, esse número cai para 8 mil habitantes por sala. Na Argentina, 40 mil e, no México, 27 mil habitantes por sala.

Para tentar mudar um pouco esse cenário, o diretor da Ancine falou sobre os recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) para a criação de mil novas salas de cinema em todo o país. Neste momento, o projeto está em fase de conclusão e o público alvo deverá ser a classe C, com preços de ingressos compatíveis aos bolsos dos moradores das regiões menos atendidas, inclusive nas periferias das grandes cidades.

A TV por assinatura também é um mercado restrito e mais direcionado às classes A e B, com 6,2 milhões de assinantes, ou 11% dos domicílios brasileiros. Apesar da queda e do fechamento de muitas locadoras por causa da pirataria, cerca de 65% das cidades têm acesso ao aluguel de filmes em DVD ou vídeo, o que mostra também um potencial maior dessas janelas quando comparadas ao mercado exibidor convencional.

Coproduções brasileiras

Com relação às coproduções brasileiras por meio de parcerias internacionais, Rangel lembrou os programas de exportação para o cinema e produção independente para a televisão que foram criados a partir das iniciativas da Ancine e da Secretaria do Audiovisual (SAV). Questionado sobre os resultados de bilheteria e vendas internacionais desses produtos, Rangel afirmou que a Ancine tenta reunir informações voluntariamente disponibilizadas por cada produtor, mas que não consegue compilar os dados completos “em função da legislação brasileira, que não é clara quanto à exigência para que essas informações se tornem públicas”.

“O que nós tentamos fazer é a política da boa vizinhança. Os produtores são convidados a darem informações. Algumas delas nós já temos, embora ainda não estejam acessíveis”, declarou. O FSA, ao contrário, por ser sócio dos filmes, terá informações mais completas sobre isso, segundo Rangel.

Cinema digital

Outro tema debatido pelos especialistas foi a proliferação de filmes digitais, principalmente produzidos pelas novas gerações. A partir de uma provocação da plateia, o diretor da Ancine explicou que, apesar de promover uma maior diversificação e rapidez, a produção em digital ainda não trouxe redução de custos para o mercado, cujos valores de pagamento para os talentos e equipe técnica ainda são os mesmos. Alguns inclusive chegaram e ficar mais caros em função dos custos para finalizar em 35 mm as cópias que serão distribuídas para as salas convencionais, que ainda são a maioria no mercado exibidor.

Nessa linha, o palestrante francês Augros lembrou que quando o vídeo surgiu também como uma alternativa acessível, nos anos 1980, se falava que todos poderiam fazer mais filmes. Entretanto, o que se viu, foi o aumento da produção cinematográfica em países periféricos, como Nigéria e Índia, mas que o cinema em 35 mm não foi substituído. “Todo mundo tem a esperança de se apropriar do cinema como um todo, mas o mercado não quer produtos baratos de baixa qualidade”, acrescentou.