Reinventar a democracia

Reinventar a democracia

 

Por Alessandra Meleiro, de Bilbao

José Saramago, jornalista e Prêmio Nobel de Literatura em 1998, passou recentemente por São Paulo para uma palestra sobre sua última obra, “O Homem Duplicado”, no teatro do Colégio Santa Cruz.  A visita ocorreu pouco tempo depois de Saramago, um dos principais nomes da esquerda mundial, ter rompido publicamente com Fidel Castro na seqüência da execução dos seqüestradores de um barco que foi desviado para os EUA.  “Até aqui cheguei. De agora em diante, Cuba seguirá seu caminho e eu fico onde estou”, declarou ao jornal espanhol El País.

Fidel, em entrevista publicada pelo jornal argentino Página 12,comentou a crítica de José Saramago lamentando que ele não tenha entendido “uma só palavra sobre as realidades em que vivem Cuba e o mundo”. Assim como “O Homem Duplicado” é uma aposta clara pela alteridade, pelo reconhecimento do outro, Saramago declarou em sua passagem por São Paulo: “Aquilo que escrevi foi com muita dor. Minha solidariedade com o povo cubano continua intacta”.

Durante sua palestra, Saramago pontuou que não foi ele quem se distanciou da Revolução Cubana e sim, a Revolução Cubana que se distanciou de si mesma. “O que é curioso é que quando apoiava Cuba eu entendia o que se passava no mundo. Agora que não apoio, não entendo mais”, ironizou.

Os personagens de suas obras se interrogam sobre sua própria identidade: Quem somos? Por que não reconhecemos e compartilhamos uma natureza humana se somos iguais? O escritor, em carne e osso, também se interrogou: “Há que punir. Mas por que com fuzilamentos? Fidel disse ser contra a pena de morte, e eu acredito que seja sincero. Espero que isso mude”. Sua ficção mostra uma imagem de nós mesmos: somos sombras no fundo da caverna e confundimos imagens com a realidade, como ele mesmo diz em referência ao mito platônico. “A humanidade nunca viveu tanto a caverna de Platão como hoje. Vivemos na caverna do engano, de nossa própria ignorância e a única forma de sair dela é o debate, a crítica, a análise.”

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FONTE
Artigo originalmente publicado na Revista Carta Capital, Ano IX, n.244, São Paulo, Ed. Confiança, pp. 60-61.